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Microplásticos podem estar afetando negativamente o clima

A presença de microplásticos na atmosfera é uma preocupação para a ciência do clima, novos estudos indicam que esses fragmentos podem influenciar diretamente a formação de nuvens e, consequentemente, as condições climáticas. Um estudo recente mostra que microplásticos, partículas com menos de 5 milímetros, possuem características que os tornam capazes de atuar como núcleos de gelo, facilitando a formação de cristais em temperaturas mais altas do que normalmente seriam necessárias. Esse fenômeno pode criar nuvens em locais e condições onde elas não existiriam sem a presença desses plásticos.

Formação de Nuvens e o Papel dos Microplásticos

A formação de nuvens depende da presença de partículas que funcionam como núcleos, às quais as moléculas de vapor de água se aderem, condensando-se em gotas de água ou cristais de gelo. No caso dos microplásticos, essas partículas podem agir como catalisadores da formação de gelo em temperaturas entre 5 a 10 graus Celsius mais quentes do que o usual. Isso significa que microplásticos no ar podem provocar a formação de nuvens em condições atmosféricas que, sem eles, não permitiriam a condensação do vapor de água.

Impactos no Clima e na Precipitação

A presença de gelo em nuvens tem impacto direto no clima, pois muitas precipitações, como chuva e neve, têm origem em partículas de gelo nas nuvens. Quando cristais de gelo se formam nas nuvens, eles atraem vapor de água, aumentando de tamanho até caírem como precipitação. Em regiões fora dos trópicos, onde a temperatura é baixa nas camadas superiores da atmosfera, a formação de cristais de gelo é essencial para o desenvolvimento das nuvens de chuva. Assim, a presença de microplásticos que facilitem a formação desses cristais poderia impactar o padrão de chuvas, com potencial de aumentar a frequência ou a intensidade das precipitações.

Além disso, as nuvens afetam o balanço energético da Terra ao refletir parte da radiação solar, o que tem um efeito de resfriamento. Porém, também absorvem a radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre, contribuindo para o aquecimento. A quantidade de radiação refletida depende do tipo de partículas presentes na nuvem — se contiver mais gelo do que água líquida, a proporção de radiação refletida muda, o que poderia impactar o aquecimento global.

Metodologia do Estudo e Resultados

Para investigar o papel dos microplásticos, pesquisadores analisaram quatro tipos comuns de plásticos na atmosfera: polietileno de baixa densidade, polipropileno, cloreto de polivinila e tereftalato de polietileno. Os microplásticos foram submetidos a condições simuladas de desgaste atmosférico, como exposição à luz ultravioleta, ozônio e ácidos, para observar se essas alterações influenciariam a capacidade de nucleação de gelo. Os resultados revelaram que a maioria das gotas contendo microplásticos congelou em temperaturas de até -22 graus Celsius. Isso sugere que mesmo após alterações químicas, essas partículas mantêm sua capacidade de formar gelo, reforçando o potencial dos microplásticos de modificar o comportamento das nuvens.

Questões Ainda em Aberto

Apesar dos avanços, ainda restam perguntas sobre o impacto exato dos microplásticos no clima. Não se sabe precisamente em quais concentrações esses microplásticos estão presentes nas altitudes onde as nuvens se formam, nem sua comparação com outras partículas atmosféricas, como poeira mineral ou partículas biológicas, que também nucleiam gelo. Medições mais detalhadas ajudariam a entender melhor a influência dos microplásticos no equilíbrio climático.

Perspectivas Futuras

A pesquisa pretende explorar partículas plásticas menores e com aditivos, como corantes e plastificantes, para investigar se essas variações influenciam a capacidade dos microplásticos de atuar como núcleos de gelo. Com essas descobertas, é possível que os microplásticos desempenhem um papel mais significativo do que se imaginava anteriormente no sistema climático da Terra, afetando precipitações, padrões de temperatura e até mesmo eventos climáticos extremos.

A crescente presença dos microplásticos, encontrados em lugares remotos como o cume do Everest e nas profundezas dos oceanos, reflete um desafio ambiental e climático que requer atenção urgente. Ao compreender melhor a influência desses fragmentos no clima, será possível desenvolver estratégias mais eficazes para mitigar seu impacto ambiental e climático.

Fonte: Wired

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